domingo, 29 de agosto de 2010

Da África ao Heavy Metal (parte 4)

Em 1968, depois de 2 anos sem sucesso, o quinteto de blues Mythology, de Aston (região no norte da Inglaterra de 15 mil pessoas na época) se separou. A banda (também de blues) Rare Breed também levou fim no mesmo ano. Dois membros da Mythology (o guitarrista Francis e o baterista William) se uniriam com dois membros da Rare Breed (o vocalista John e o guitarrista Terence, que se torna baixista) e mais dois amigos (o saxofonista Alan e o guitarrista Jim). Estava formada a The Polka Tulk Blues Band (a partir de uma marca de talco). A Polka Tulk, como era apelidada, não gostando do estilo deles, expulsa dois membros, Alan e Jim, e resolve pegar mais inspiração em artistas como os Beatles. Muda seu nome para Earth. Ao descobrir uma banda com o mesmo nome, precisam trocar, já que o provisório The Earth Blues Company não soava bem. Ficam em intensa dúvida. Então, um dia, Terence passeava e viu um filme de terror por Boris Karloff. Teve uma grande ideia.

"As pessoas pagam para sentir medo!", uma simples e boba frase. Uma simples e boba frase que mudaria o rock. O nome estava decidido, seria o nome do famoso filme. A seu blues/rock, acrescentaram distorção e uma atmosfera sombria. Então, John, Anthony, Terence e William adotam os apelidos Ozzy, Tony, Geezer e Bill. É o Black Sabbath.

O heavy metal só nasceria cruzando o "eu odeio hippies" super-underground do BS com o hard rock poderoso do Led Zeppelin, do qual falei na última postagem. Ele se desenvoloveu rapidamente, se compararmos ao blues. Nessa mesma época do Black Sabbath, você via uma revolução do hard rock cruzado com o metal. Deep Purple (famosa pelo famoso riff de "Smoke on the Water", tocado em "Escola do rock") compõe a música "Highway Star", que, ao acelerar o ritmo e mesclar-se com música clássica, precede o speed metal (depois nós falamos sobre isso).

Kiss e Aerosmith são duas bandas de hard rock/metal também de grande sucesso. A primeira é conhecida pela cara pintada de seus membros e músicas como "Rock n' Roll Nite" e "Heaven's On Fire". A segunda, é a banda americana de rock que mais vendeu discos. Frequentemente essas bandas são chamadas de heavy metal, principalmente a primeira, mas, não se engane. São de hard rock.

Outro hard rock/metal cultuado é a banda australiana AC/DC, que, com o vocalista Bon Scott (depois morto por uma combinação de overdose e hipotermia que o levou a vomitar até a morte), foi a primeira mainstream global do país. Mais bandas de hard rock que merecem menção são a holandesa-americana Van Halen (com seu grande guitarrista Edward) e a Scorpions, banda alemã que anunciou a separação para daqui a menos 4 anos. Mas não esqueceremos do Queen, banda de hard rock operático que influenciou desde Lady Gaga até Metallica, passando por Radiohead, Green Day, Foo Fighters, Anthrax e Iron Maiden.

Ainda sobre o metal primordial, podemos citar os flertes com hard rock e metal do rock psicodélico proto-gótico da Blue Öyster Cult. Outra banda da época é a Mötorhead, trio sem formação fixa com o maior sucesso sendo Ace of Spades. E, é claro, a banda Judas Priest, que fazia pouco sucesso nessa época referida, mas depois nós veremos sua grande importância, quando começarmos a falar de NWOBHM e speed metal.

Também começa a surgir o power metal, que, com melodias neoclássicas (ou seja, com influências eruditas na hora de compôr), é iniciado por bandas como Accept, Savatage e Manowar, sendo essa última a maior precursora, com sons épicos como Warriors of the World, que só seria completo com o speed metal. O power entra para a lista dos subgêneros que veremos depois.

Enquanto o metal, underground, começa a ganhar uma real popularidade, surge um novo movimento contracultural. É o punk, que, inspirado nas melodias simples e ácidas de rock clássico, como The Who, The Doors, David Bowie, e, principalmente, The Velvet Underground, toma forma nos EUA com a banda de baixa popularidade "? and the Mysterians", que poderia ser (mesmo que muito mal comparando) a Led Zeppelin do estilo. Mas, a primeira banda de punk mesmo seria formada por quatro ex-delinquentes juvenis nova-iorquinos.

Em 1976, a gravadora Sire Records, já acostumada com protopunks, resolveu aceitar uma banda duvidosa: quatro jovens de rua que tocavam músicas ácidas com uma guitarra Mosrite Venture II de 54 dólares. Foi o maior sucesso da gravadora, ao produzir The Ramones. Quanto à banda, continuaria fazendo sucessos. Quanto à gravadora, ainda gravaria Madonna. Quanto ao punk, já é outra história.

Na Inglaterra, como pura jogada de marketing, é criada a banda Sex Pistols. A banda acabou se tornando maior que a própria grife que os produzia. Ficaram famosos por irritar ninguém menos que a rainha Elizabeth, com a música God Save the Queen, que os conseguiu milhares de fãs e um decreto que os proíbe de tocar na Inglaterra. Pegam um barco e vão tocar num rio. Outra grande banda do estilo é The Clash, famosa pelo hit Should I Stay or Should I Go. Ainda surge o hardcore punk, marcado pelos seus ritmos mais simples ainda, mas letras politizadas, comoHoliday in Cambodia, polêmica música sobre a ditadura de Pol Pot, pelo grupo The Dead Kennedys. Em São Paulo, o Brasil também tem seu movimento punk, com bandas como Ratos de Porão. Mas, com o tempo, o punk foi tomando vários caminhos.

Com o ritmo inspirado por músicas pop e disco, surge o New Age, com bandas como Talking Heads e seu hit Psychokiller, que influencia o rock lento do novo milênio, e The Cure, precursora gótica com músicas como Boys Don't Cry (parodiada pelos Mamonas Assassinas) e Friday I'm In Love. Depois surge o post-punk do U2, que deriva as bandas mais "moderninhas" junto do New Age. Também aparece o punk pop, representado no Brasil pelo Forfun, que já é muito mais distante do punk que do pop. Hoje, até emo é "punk"...

Mas, tantas palavras sobre o punk têm o único objetivo de falar sobre o que seguiu os anos oitenta no metal. Várias bandas inglesas e alemãs resolver fazer metal acelerado e com influências punk. Surge o speed metal, mas, para encurtar tudo isso, falaremos dele e de sua importância na próxima postagem.


(continua na próxima postagem...)

Próxima postagem: "Da África ao Heavy Metal (parte 5)"

sábado, 21 de agosto de 2010

Da África ao Heavy Metal (parte 3)

Em 1964, depois de dois singles que se tornam terríveis fracassos de vendas, os cinco jovens do The Kinks sofreram da gravadora Pye Records a anulação de um contrato caso seu terceiro não vendesse o esperado. Desesperado por um novo sucesso, o vocalista Ray Davies, culpando o fracasso pelo caso deles serem muito "polidos", senta-se no piano do quarto de seus pais e produz uma sequência de notas incríveis. Ao apresentá-la a seu irmão e guitarrista Dave, ele pega um alfinete, liga sua guitarra na distorção, efeito pouco usado na época e constrói o riff da música You Really Got Me, que, após gravada, não só atingiria os objetivos de venda, como também subiria ao topo das paradas britânicas e inauguraria um novo estilo: o épico hard rock. Participando da gravação dessa música histórica, com 20 anos, estava o músico de sessão James Patrick. Guarde esse nome.

Logo depois desse sucesso estrondoso, o hard rock teve uma evolução de popularidade muito rápida. As bandas mais clássicas começam a flertar com o hard rock. Alguns exemplos são a música dos Rolling Stones "Satisfaction" (surgida em um sonho do guitarrista Keith Richards), a do The Who "My Generation" (a primeira música com um duelo de baixo vs. guitarra, até hoje um hino dos jovens, nas vozes de Oasis e Green Day) e até os Beatles, com a música "Helter Skelter" (curiosamente, a música ouvida pelo serial killer Charles Manson enquanto mutilava a esposa do cineasta Roman Polanski).

Em 1967, a banda canadense Steppenwolf gravaria seu maior sucesso, o hino dos motoqueiros, o protótipo de heavy metal "Born To Be Wild", que ficaria famoso pelo seu riff potente. Daí surgiria o nome "heavy metal", referindo-se ao barulho das motocicletas, na linha "eu gosto do trovão do metal pesado". Isso marcaria a rebeldia dos fãs de rock, dando um pulso de liberdade que marca o rock até hoje.

Outra banda inesquecível é a banda The Yardbirds, que mesclava o blues com o rock para fazer um estilo distinto. Não fez um sucesso realmente estrondoso na época, mas por ela passariam grandes nomes, como Eric Clapton (mais famoso pela sua carreira solo e sua música acústica "Tears in Heaven, 4o maior guitarrista pela Rolling Stone), Jeff Beck (conhecido por tocar sem palheta, só dedilhando, 14o melhor pela Rolling Stone), e, o mais notável, James Patrick Page, aquele músico de sessão do começo da postagem.

Em 1968, no que os Yardbirds se separaram, James chama novos membros. No vocal, Robert Anthony Plant, da banda Band of Joy. No baixo, John Baldwin, que músico de sessão que tinha tocado o baixo de "She's a Rainbow", dos Rolling Stones. Na bateria, John Henry Bonham, também da banda Band of Joy. Juntos, eles formam a New Yardbirds. No que convidam os membros do The Who John Entwhistle (vulgo melhor baixista de todos, o único que supera Cliff Burton) e Keith Moon (à altura o melhor baterista de todos, depois superado por John dos New Yardbirds) para ouvir seu som, ouvem de Keith que o som deles era "suave e leve como um dirigível, mas pesado como chumbo", logo o som deles era como um dirigível de chumbo. Um Led Zeppelin.

O Led Zeppelin, com seu ecletismo para compôr que envolvia de música oriental, celta e blues até hard rock, reinventou o rock. Foram, se assim me permitem dizer, os Beatles dos anos 70. Suas obras de arte como The Battle of Evermore e Stairway to Heaven fazem contraste com suas músicas mais pesadas, como Kashmir, Immigrant Song, Moby Dick, Black Dog e a épica Rock n' Roll. Falando de Stairway to Heaven, se você nunca a ouviu, o que você está fazendo aqui? Vá ouví-la agora. Suas letras místicas e poéticas, com sua guitarra fluente, sua bateria tranquila e sua flauta doce sintetizada pelo baixista e multi-instrumentista John Baldwin (agora conhecido como John Paul Jones) em um mellotron.

Pouco tempo depois do Led Zeppelin abrir a porta para o heavy metal, 4 amigos que sempre tocaram blues são os primeiros a entrar nela. Até hoje eles são lembrados por suas técnicas monstruosas de usar a voz e o instrumento para fazer sua música.

Próxima postagem: "Da África ao Heavy Metal (parte 4)"

domingo, 15 de agosto de 2010

Da África ao Heavy Metal (parte 2)

Depois de alguns cantores de R&B clássico, como Benny Goodman, Glenn Miller e Count Basie, Chuck Berry resolve fazer um som mais dançante e cria a clássica música Johnny B. Goode, sobre o começo de carreira de um cantor de blues fictício. Depois disso, Chuck seria chamado de "o pai do rock". O country dançante também originou "Rock Around the clock, da Big Band Bill Halley & The Comets. Mas, não seria nada sem um caminhoneiro do interior do Mississipi.

"Os brancos tinham o country, os negros tinham o blues. Elvis tinha o blues. Ele era um negro com pele branca.", diria o empresário não-contemporâneo Alan McGee. Em 1954, "brincando" de cantar blues em um estúdio, o caminhoneiro Elvis Presley improvisa e inventa "That' s All Right". Alguém que estava no estúdio ouve e Elvis sai da carreira de caminhoneiro para se tornar músico profissional. Depois ele tocaria músicas como Hound Dog, Bossa Nova Girl e a melhor de todas, The Jailhouse Rock. Elvis foi um sucesso internacional.

Depois de Elvis, o rock não produziria grande coisa por um certo tempo. Neste meio tempo do fim dos anos 50 para o começo dos 60, destaca-se o surgimento do blues-rock, cuja importância você entenderá na próxima postagem. É o ritmo de The Shadows, The Crow e The Yardbirds (banda do virtuoso Eric Clapton). Nessa época, começam a surgir as primeiras bandas brasileiras de rock, mesmo o rock sendo antes gravado por sambistas como Nora Ney, Betinho & seu Conjunto e o maestro Cauby Peixoto. Surgiria também a vanguarda brasileira, nome vindo de "avant-garde", inaugurado por Roberto Carlos e sua MPB jazzista. Mas, em 1963, começava a Invasão Britânica. A Era de Ouro do rock.

3 de Janeiro de 1964. Ninguém nos EUA esperava que aqueles quatro jovens na faixa dos 19 aos 22 anos, sucesso local na Inglaterra, fossem grande coisa. Isso até o mais velho dele começar a tocar uma certa sequência de cordas envolvente e dançante. Algo nunca ouvido nos Estados Unidos. Era "I Wanna Hold Your Hand", futuro clássico daquele quarteto. O nome deles? Eles se identificavam como The Beatles. Essa banda faria um sucesso incomparável a qualquer outra, mais antiga ou mais nova que ela. Fizeram sucesso mundial, mesmo com sua curta carreira de 10 anos. Os Beatles são, até hoje, reverenciados por novos fãs.

Enquanto os Beatles faziam sucesso, surgem novas bandas da Invasão Britânica. Uma delas era os Beach Boys, banda de surf rock que utilizava do teremim ao violoncelo para fazer seu som desejado. Brian Wilson, seu vocalista, foi rankeado como o 49o maior gênio vivo pela Synthetics, na frente do cineasta George Lucas, e, quase empatado com o gênio da computação Bill Gates.

Outra banda que se destaca é The Rolling Stones, banda que até hoje está de pé. Esses músicos ingleses, principais rivais dos Beatles, fizeram (e fazem) grande sucesso. Inclusive, em 2006, entraram da história com um dos maiores públicos para um show de rock. Um milhão e meio de pessoas, em Copacabana.

Nos EUA, surge o Folk Rock americano, com uma figura que até hoje faz sucesso com seus hits "American Woman", "Like A Rolling Stone", "Blowin' in the Wind" e "Forever Young". (Esta segunda, escolhida como a melhor música de todas pela revista Rolling Stone, autoridade em música). Não confunda esta última com a música do Alphaville, que foi renovada *destruída* por um dueto entre os rappers Jay-Z e Mr. Hudson.

Ainda nos EUA, nessa mesma época, surge o rock psicodélico, de músicos que usavam e abusavam de drogas alucinógenas. Uma dessas bandas é o The Doors, com influências desde o blues-rock até a música indiana. Outro que se destacaria é o maior guitarrista de todos, Jimi "left-handed" Hendrix, guitarrista que, por não ter formação na guitarra, simplesmente "reinventou" o jeito de tocá-la. De Nação Zumbi ao heavy metal, todos guitarristas gostam de se dizerem influenciados pelo trabalho de Jimi.

Mas, no meio de tanto rock primordial, uma banda esquecida pela mídia com músicas dóceis e calmas acaba com esse rótulo e decide inovar. Na época dos Beatles, o rock toma a forma que conhecemos, graças a uma composição feita em um piano que ficava no quarto dos pais de um jovem de 20 anos, que, sem saber, mudaria a música que viria depois dele para sempre.


(continua na próxima postagem...)

Próxima postagem: "Da África ao Heavy Metal (parte 3)"

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Da África ao Heavy Metal (parte 1)

Para quem acha que o rock é algo atual, saiba que ele tem raízes a muito mais tempo do que você imagina... Pense nos imigrantes do século 19 nos EUA e você já mentalizou o começo de toda essa história.

Nas épocas antigas, baseados na música folclórica da África, os escravos começaram a cantar as chamadas work songs, músicas cansadas para distraí-los enquanto faziam o trabalho duro. Elas eram cantadas a capella. A música espiritual que eles cantava se parecia muito com essas canções. Com o tempo, a percussão e instrumentos próprios foram adicionados a esse estilo. O mais famoso é o akonting, espécie de alaúde gigante do Oeste da África. Nós não temos muitos vestígios dessa época, mas nós sabemos por relatos somente. Também pela sua herança.

As baladas negras fizeram sucesso no fim dos anos 1880 e 1890, depois da abolição da escravatura em 1863. Eram reuniões de negros de bairros pobres para tocar suas músicas sobre a tristeza deles. Essas músicas chegaram aos ouvidos de um pianista clássico mestiço da Inglaterra, Samuel Coleridge-Taylor, que compõe a música em 1898 "A Negro Love Song", com letra do poema homônimo do primeiro poeta afro-americano licenciado, Paul Dunbar, escrito em 1896. Os sons falados mais sem nenhum sentido linguístico formariam o scat, forma de cantar que seria depois usada da bossa nova ao rap.

Samuel Coleridge-Taylor abriu as portas para que, em 1912, fosse lançada a música "Dallas Blues", que é a primeira música desse gênero que foi lentamente desenvolvido, o blues. Até hoje, os blues tem os melhores guitarristas. Jimmy Hendrix (começo de carreira), Eric Clapton, B. B. King e Les Paul são alguns exemplos. Seriam inseridos no gênero a guitarra, a percussão, o órgão e o piano.

Vários músicos se destacariam nessa cena musical. A música negra torna-se mais universalizada. Lentamente, a música negra se insere no mercado. É o começo de toda a história do rock por um lado. Mas, não nos esqueçamos do country...

Imigrantes europeus do início do século 19 nas Montanhas Apalaches do Sul (região nos estados americanos da Carolina do Norte, Carolina do Oeste e Virgínia cortada pelo rio Kanawha) trouxeram consigo 300 anos de história musical folclórica europeia. Trouxeram o violino da Irlanda, o Scheitholt da Alemanha, o bandolim da Itália e o violão da Espanha. Na região, o Scheitholt evoluiu para o dulcimer, o violino, para o curvo (ou fiddle), e, o akonting do blues que já verificamos, para o banjo. Naquela área, influenciados pela música africana e indígena apalache, os imigrantes europeus inventaram um estilo de música cheio de cordas. Era o country.

O country começou como uma música vulgar, improvisada até. Mas em 1922, as rádios de Atlanta (Geórgia) e Fort Worth (Texas), começaram a tocar músicos locais ao vivo. O primeiro a fazê-lo foi um tocador de curvo, Fiddlin' John Carson, do condado de Fannin, na Geórgia. Depois dele, viriam astros. O primeiro a atingir fama nacional foi Marion Try Slaughter (vulgo Vernon Dalhart), texano de Jefferson, com seu hit de 1924, a balada country "Wreck of the Old 97", sobre um terrível acidente de trem em 1903.

Depois, no período de 1940 até 1960, se popularizariam as bandas de country que atingiriam a fama. Até hoje, mesmo que de outras formas, o country é muito popular. Um exemplo é a balada country-rock Hotel California, do The Eagles, uma das mais belas músicas já tocadas, com triste letra sobre a heroína, alguns afirmando que ela fala sobre um hospício homônimo (ideia que também faz sentido), e, outros, que ela fala simplesmente da infância na Califórnia. É uma letra ambígua.

Os negros tinham o blues (e, depois o R&B). Já os brancos, tinham o country. Não existia música universal. Até que o blues e o country se unem graças a um caminhoneiro eclético e fã de música sem medo de compôr músicas boas.

(continua na próxima postagem...)

Próxima postagem: "Da África ao Heavy Metal (parte 2)"

Literatura e Heavy Metal

Hoje em dia fala-se que são 7 artes: a música, a dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro e o cinema. As sete se cruzam, formando belas misturas. Uma grande infinidade de artistas cruzou a primeira com a quinta, de Mozart a Metallica. De Hamlet ao horror de Lovecraft. Vejamos alguns exemplos.

Vamos começar pelo Led Zeppelin. Primeiro porque sempre falo da melhor banda de hard rock de todas. Segundo, por causa de seus vários exemplos. Primeiro: as músicas Ramble On, Misty Mountain Hop, Bron-Y-Aur Stomp e Old Shep, com influências líricas na literatura de Tolkien, a que Plant depois se declararia fã. Segundo: a famosa música de rock celta com country The Battle of Evermore, onde o maravilhoso guitarrista Jimmy Page tocava um bandolim. Além de mais algumas influências do Senhor dos Anéis, ainda falava muito sobre o folclore escocês.

Mas uma banda com constantes referências à litearatura é a banda de heavy metal primordial Blue Öyster Cult, com já o título referente ao "culto da ostra azul", um grupo de pessoas que criou um guia de história da Terra secretamente nos poemas de Sandy Pearlman. Quase todas suas letras têm referências à literatura de terror, principalmente de Edgar Allan Poe. Por exemplo, seu maior sucesso, (Don't Fear) The Reaper fala sobre as lendas medievais de Grim Reaper (a morte), com referências a Shakespeare. A música foi acusada de incentivar o suicídio, por causa de suas mensagens de não temer a morte, mesmo que os membros da banda jurassem estar falando de amor eterno.

Um clássico de heavy metal que quase se transformou em mais uma música do obscuro movimento de blues nos anos 60 é outro exemplo. Na época da banda desconhecida de blues e rock clássico Earth, o vocalista John deu para o guitarrista de apoio Terence um livro de ocultismo. De acordo com Terence, ele guardou o livro e foi dormir. Ao acordar, supostamente "um vulto preto com olhos de fogo", Satã, encarava ele. No dia seguinte, o livro some. Ao contar essa história para seu amigo John, a banda escreve a letra. Depois, a música daria o nome da banda: Black Sabbath, a primeira banda de heavy metal puro, por misturar o blues com hard rock em uma atmosfera sombria.

A grande e famosa banda Iron Maiden usou, tanto livros quanto filmes e elementos históricos, em sua composição. Isso a ponto de quase chegar a uma briga judicial. Em 1983, a banda queria compôr uma música chamada Dune, em homenagem à famosa série (que depois ficaria com 5) livros homônima. A seca resposta do escritor Frank Herbert foi que ele não gostava de rock, proibindo também o uso de citações do livro, sob ameaça de protestos. O Iron Maiden compôs, então, a música To Tame a Land, com inúmeras referências ao livro, sendo que, na Itália e no Canadá, a música sairia com o nome desejado originalmente.

Um exemplo não de letras, mas de título, é o maravilhoso instrumental do Metallica "The Call of Ktulu", com referência a Cthulhu, criatura mitológica do universo criado por H. P. Lovecraft. Cthulhu (que, de acordo com, autor, o jeito mais próximo de pronunciar seu nome para as capacidades fonéticas do ser humano seria "hthluthlu"). A criatura era descrita como um ser marinho com asas rudimentares, cabeça de polvo, asas de dragão e face semi-humana.

As bandas góticas que viriam depois também usariam muito a literatura. A maior banda de metal de Portugal, Moonspell, é um exemplo. Essa banda, que mistura rock gótico com black metal e música folclórica portuguesa, fez seus maiores sucessos, Luna, Vampiria e o instrumental "Chorai Lusitânia", baseados na literatura. Uma banda com referências literárias em todas músicas é a Theatre of Tragedy. Seu maior sucesso é a música "A Hamlet for a Slothful Vassal".

Com sete artes, muitas se misturam. Mas seriam sete? Há quem inclua a fotografia como a oitava, e os quadrinhos como a nona. Mas... O que é a arte?

Próximo: "Da África ao Heavy Metal (parte I)"