domingo, 31 de outubro de 2010

A Importância das Letras

Uma música sempre é, basicamente, o resultado de três elementos: melodia, letra e performance. Às vezes, muitos músicos entram com letras e elas se tornam uma música, como eventualmente fazem artistas como Pink Floyd, Iron Maiden e Eric Clapton. Mas o mais comum é que primeiro seja construída a melodia. Depois, vem uma letra que se encaixe. Nesse "depois", pode haver desde umas palavras que soem bem e façam sentido até um belo poema. Mas para que uma boa letra?

Até antes da idade média, praticamente todas as músicas tinham como letra algum tipo de louvor a alguma divindade. Mas, com os artistas de rua na idade média, começam a ser comuns as letras baseadas em amor, folclore e problemas sociais. As óperas trouxeram, pela primeira vez, letras que contavam histórias completas, além de serem das primeiras músicas a falarem abertamente sobre política, em algumas delas, mesmo a maioria falando sobre amor, dramas, heróis e reticências. Agora que já expliquei as origens, vamos direto ao ponto:

As letras atuais de metal, ao contrário do que você pensa, têm a mesma base de sempre: sociedade (nisso incluo política, pessoas, violência, guerras, revolução, [in]justiça, ...), coisas misteriosas (morte, escuridão, satã, sobrenatural, magia, ...)  e sentimentos reprimidos ([frustração no] amor, raiva, solidão, agressividade, depressão, ódio, medos, ...), e, como postei em agosto, histórias que se originam da cultura geral. Aí incluo: literatura (como "For Whom The Bell Tolls" do Metallica, todo o 9o e 10o álbum do Sepultura e "Bron-Y-Aur Stomp" do Led Zeppelin), filmes ("Your Soul Is Mine" do Mushroomhead, "Welcome Home (Sanitarium)" do Metallica e "Bring Your Daughter To The Slaughter" do Iron Maiden), folclore ("(Don't Fear) The Reaper" do Blue Öyster Cult, "The Battle Of Evermore" do Led Zeppelin, "Herr Mannelig" do In Extremo e "Trollhammaren" do Finntroll), fatos históricos (inúmeras músicas de bandas como Iron Maiden e Judas Priest) e até religiões antigas (praticamente todas as músicas da Finntroll, Amon Amarth, Burzum, Báthory, Primordial, entre várias outras).

Ao analisar bem certas letras, você pode perceber bem que certas bandas, principalmente as que têm o som girando em volta do guitarrista, não se importam muito com suas letras. Aquelas com um guitarrista super virtuoso, que escreve a melodia e a letra. Muitas ótimas bandas de hard rock são assim (sem querer generalizar). Enquanto isso, algumas bandas chegam ao ponto de manter um letrista, como Trans-Siberian Orchestra (seu produtor Paul O' Neil) e Finntroll (seu ex-vocalista Katla, depois de um tumor na garganta).

Algumas bandas são muito engajadas com a causa x e a causa y, demonstrando isso em suas letras, como Rage Against The Machine (banda de extrema-esquerda, que causou polêmica em 2005 ao defender o exército Zapatista, e, recentemente, deixou a Globo mal, que os cortou quando seu guitarrista pôs um boné do MST e depois voltou com desculpas esfarrapadas) e System of a Down (o reconhecimento do genocídio armeno e a proteção aos que se encontram em meio a uma guerra) e a banda de hardcore punk Dead Kennedys (socialismo e fim do autoritarismo).

E, quanto a controversa classificação do gênero musical a partir das letras, há uma divisão clara entre os que concordam e os que discordam com "gêneros" como: white metal (cristianismo), pagan metal (paganismo), trick metal (paródia) e viking metal (vikings, esse é o mais apoiado como gênero de verdade). As letras também podem fazer um contraste com o jeito de cantá-las que define o gênero. Ainda há quem ache que a banda suíça Mercyful Fate, conhecida pelas "oito vozes de King Diamond", pode ser considerado black metal por causa de suas letras malignas, mesmo sendo essa banda mais leve do que o velho Metallica (eu poderia passar horas aqui falando sobre a grande diferença entre first wave e second wave do black metal, mas isso tiraria o tópico da linha de raciocínio). Também há quem classifique Black Sabbath como doom metal só por causa de suas tristes e melancólicas letras satânicas, mesmo esse gênero só surgindo no fim dos anos 80.

Você também pode ver uma tendência nas letras de cada um. Por exemplo, a maioria das bandas de black metal e death metal mainstream têm suas letras voltadas para ocultismo, guerra e morte (mesmo não sendo todas) e o folk metal tem, necessariamente, suas letras voltadas para folclore e paganismo. Muitas das músicas de power metal têm letras épicas (como Angra, Helloween, Blind Guardian e Dragonforce), assim como seus precursores (como Dio e Iron Maiden). O hard rock e o glam metal têm uma proximidade muito grande nas letras, com temas que costumam voltar à era "Sexo, drogas e rock n' roll" (principalmente rock n' roll). De qualquer jeito, também há os dois extremos de importância das letras. Vamos começar pelo mínimo:

É o rock instrumental, que começou a fazer sucesso com os longos solos de guitarra gravados pelo guitarrista Link Wray, que, com sua técnica, influenciaria pesadamente o surf rock.  O metal progressivo também apresentou vários trabalhos instrumentais, com bandas como Rush, King Crimson e Dream Theater. O maior expoente desse gênero é o Planet X, banda sem vocal que toca prog metal com influências pesadas de jazz fusion. Um outro gênero é o shred, solos (ou batalhas) de guitarra extremamente rápidos com influências da música clássica, com guitarristas como Steve Vai, Yngwie Malmsteen e o brasileiro Tiago Della Vega (simplesmente, o guitarrista mais rápido do mundo).

Outro extremo, mesmo não tendo se fixado como gênero, é o spoken word. Consiste simplesmente da letra "falada" (sem melodia), com ou sem (geralmente sem) um instrumental no background. Na verdade, esse gênero nunca foi muito usado no metal, só muito raramente, em músicas como To Live Is To Die (Metallica). Ele é muito mais popular em soul, blues ("spoken blues"), e, principalmente, nos primeiros rappers.

Resumindo tudo, as letras podem ou não ser signnificativas, de acordo com quem as escreve e quem as canta. Você já parou para perceber a letra que aquele artista que você tanto gosta escreveu? E já pensou em seu significado? Já?

Próxima postagem: "Os Pais do Punk Rock"

Nota: Sim, agora eu definitivamente voltei do meu hiato de um mês e o blog voltará à normalidade.

domingo, 3 de outubro de 2010

Preconceito Contra o Heavy Metal

Como falei nas minhas primeiras postagens, o metal sempre se envolveu com drogas e ocultismo, simplesmente sujando seu nome. O ser humano tem uma tendência natural a pensar nas coisas mais deteriorantes o possível. Quando você está quase convencendo aquele seu vizinho evangélico que metal não é satânico, ele descobre sobre o morcego do Ozzy e é como se tivesse jogado bosta no ventilador. Punk rockers, funkeiros, pagodeiros, emos, happy "rockers"... Todo gênero musical sofre preconceito, mas, esse é um blog de metal, então, vamos começar.

Mesmo a palavra "preconceito" tendo um certo peso, vamos usá-la aqui. Desde antes do metal, quando só havia o style e a atitude dos motoqueiros, eles sempre eram "os violentos" na concepção das pessoas em geral. Quando o metal ainda estava ovulando com Steppenwolf, que usava temática lírica da liberdade dos motoqueiros (sua música "Born To Be Wild" é quase um hino), e quando foi criado o visual da banda Judas Priest, ainda nos primórdios do gênero, era algo muito relacionado a essa atitude má que era enxergada nos motoqueiros.

O ocultismo (às vezes realmente, às vezes falsamente praticado pelos músicos do metal em geral, como falei na postagem de Junho, acesse ela no arquivo para entender melhor o assunto) e o satanismo sempre foi relacionado com os headbangers (fãs de metal com estilo e atitude, 1 em 1 milhão hoje em dia, confesso que eu mesmo não sou), principalmente graças às letras de Judas Priest e Black Sabbath. Mais tarde, de Iron Maiden e Venom. O satanismo e os fãs do estilo nunca andaram (necessariamente) juntos. Mas esse não é o pior que existe.

Como falei em uma postagem de Julho, as drogas, muito usadas por uma legião de músicos, também são associadas aos fãs. Várias bandas limpas das drogas ilícitas chegaram "lá", como Kiss, System of a Down (há controvérsias) e Judas Priest, sem contar com aquelas que se envolveram somente com álcool, como Iron Maiden e Metallica. Enquanto isso, várias não resistiram, como Black Sabbath, Slipknot, Guns n' Roses, Led Zeppelin, AC/DC, Ozzy Osbourne e Motörhead. Há muitos casos de overdoses no mundo do hard rock e metal, mas, se você pensar bem, você verá casos de astros do pop (Michael Jackson) e do blues (Janis Joplin).

Outro tipo de preconceito brota da simples ignorância, vinda de pessoas que logo associam o "metal" ao seu 10 % de bandas de sucesso que toca black e death metal, logo associando a gritos e coisas malignas. Uma frase muito ignorante que já ouvi pessoalmente, e provavelmente muitos outros fãs de metal já ouviram algo parecido foi "Eu não sei como alguém pode parar o que está fazendo para ouvir uma pessoa gritando.", um dia depois da morte de Ronnie James Dio. Quem aqui conhecer de Rainbow, Dio ou Black Sabbath (nono, décimo e décimo-sexto álbum) saberá o tamanho do erro de quem falou esta frase. O metal, e, às vezes, em um patamar maior ainda de ignorância, o próprio rock, é vinculado à música Scream o' Rama ("gritando toda hora"), concentrada nos estilos black e death metal, além do Screamo (que é mais próximo do punk que do metal), estilos não necessariamente ruins, mas usados como rótulo pelos ignorantes.

Um dia desses li um caso muito particular na internet, onde um aluno conta ter sido suspenso e ter ido para a casa com um bilhete escrito: "lendo revista de roque". Ora, não que o idiota esteja certo de ler durante a aula, mas ao falar o tema da revista, é insinuado que, ao ser pego com uma Super Interessante ou uma Galileu, a punição seria menor. Existem vários headbangers  que não podem reclamar, já que maltratam emos e pagodeiros, mas, quanto aos que tratam as outras pessoas bem, merecem ter das pessoas ao redor o reconhecimento que o fã do metal é uma pessoa como outra, que não acha divertido assustar menininhas, não é altamente sádico com tendências psicopatas e não põe bebês na vitamina (quero dizer, pelo menos não necessariamente).

Aguardo com ansiedade o dia onde headbangers punk rockers pararão de ser tachados de perturbados, rappers de violentos, emos e góticos de deprimidos, happy "rockers" de alienados, funkeiros de criminosos e pagodeiros de bêbados. Pagode, samba, funk, emocore, punk e heavy metal. Todos nós somos seres humanos, então respeitem e sejam respeitados.

Próxima postagem: "A Importância das Letras"