quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Da África ao Heavy Metal (parte 1)

Para quem acha que o rock é algo atual, saiba que ele tem raízes a muito mais tempo do que você imagina... Pense nos imigrantes do século 19 nos EUA e você já mentalizou o começo de toda essa história.

Nas épocas antigas, baseados na música folclórica da África, os escravos começaram a cantar as chamadas work songs, músicas cansadas para distraí-los enquanto faziam o trabalho duro. Elas eram cantadas a capella. A música espiritual que eles cantava se parecia muito com essas canções. Com o tempo, a percussão e instrumentos próprios foram adicionados a esse estilo. O mais famoso é o akonting, espécie de alaúde gigante do Oeste da África. Nós não temos muitos vestígios dessa época, mas nós sabemos por relatos somente. Também pela sua herança.

As baladas negras fizeram sucesso no fim dos anos 1880 e 1890, depois da abolição da escravatura em 1863. Eram reuniões de negros de bairros pobres para tocar suas músicas sobre a tristeza deles. Essas músicas chegaram aos ouvidos de um pianista clássico mestiço da Inglaterra, Samuel Coleridge-Taylor, que compõe a música em 1898 "A Negro Love Song", com letra do poema homônimo do primeiro poeta afro-americano licenciado, Paul Dunbar, escrito em 1896. Os sons falados mais sem nenhum sentido linguístico formariam o scat, forma de cantar que seria depois usada da bossa nova ao rap.

Samuel Coleridge-Taylor abriu as portas para que, em 1912, fosse lançada a música "Dallas Blues", que é a primeira música desse gênero que foi lentamente desenvolvido, o blues. Até hoje, os blues tem os melhores guitarristas. Jimmy Hendrix (começo de carreira), Eric Clapton, B. B. King e Les Paul são alguns exemplos. Seriam inseridos no gênero a guitarra, a percussão, o órgão e o piano.

Vários músicos se destacariam nessa cena musical. A música negra torna-se mais universalizada. Lentamente, a música negra se insere no mercado. É o começo de toda a história do rock por um lado. Mas, não nos esqueçamos do country...

Imigrantes europeus do início do século 19 nas Montanhas Apalaches do Sul (região nos estados americanos da Carolina do Norte, Carolina do Oeste e Virgínia cortada pelo rio Kanawha) trouxeram consigo 300 anos de história musical folclórica europeia. Trouxeram o violino da Irlanda, o Scheitholt da Alemanha, o bandolim da Itália e o violão da Espanha. Na região, o Scheitholt evoluiu para o dulcimer, o violino, para o curvo (ou fiddle), e, o akonting do blues que já verificamos, para o banjo. Naquela área, influenciados pela música africana e indígena apalache, os imigrantes europeus inventaram um estilo de música cheio de cordas. Era o country.

O country começou como uma música vulgar, improvisada até. Mas em 1922, as rádios de Atlanta (Geórgia) e Fort Worth (Texas), começaram a tocar músicos locais ao vivo. O primeiro a fazê-lo foi um tocador de curvo, Fiddlin' John Carson, do condado de Fannin, na Geórgia. Depois dele, viriam astros. O primeiro a atingir fama nacional foi Marion Try Slaughter (vulgo Vernon Dalhart), texano de Jefferson, com seu hit de 1924, a balada country "Wreck of the Old 97", sobre um terrível acidente de trem em 1903.

Depois, no período de 1940 até 1960, se popularizariam as bandas de country que atingiriam a fama. Até hoje, mesmo que de outras formas, o country é muito popular. Um exemplo é a balada country-rock Hotel California, do The Eagles, uma das mais belas músicas já tocadas, com triste letra sobre a heroína, alguns afirmando que ela fala sobre um hospício homônimo (ideia que também faz sentido), e, outros, que ela fala simplesmente da infância na Califórnia. É uma letra ambígua.

Os negros tinham o blues (e, depois o R&B). Já os brancos, tinham o country. Não existia música universal. Até que o blues e o country se unem graças a um caminhoneiro eclético e fã de música sem medo de compôr músicas boas.

(continua na próxima postagem...)

Próxima postagem: "Da África ao Heavy Metal (parte 2)"

Um comentário:

  1. Bem verdade..
    O rock nasceu justamente do uso desta levada blues, com raízes africanas....
    Uma batida inconfundível e revolucionária!
    Parabéns pelo blog!
    ;D

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